sábado, 11 de abril de 2015

...a minha Zézinha...







...Zézinha…
Era minha Mãe.
Assim…simplesmente… era  a Zézinha…
Assim…nesta tarde de Sábado e com um café por companhia resolvi dizer algo que fez a Zézin…hoje a estrela mais brilhante e a quem eu peço proteção antes de adormecer…


Zézinha viveu em Moçambique…terra onde nasci…onde ela era feliz…a Zezinha  fez algo que hoje teria outra atenção por esta sociedade dita moderna. Pois então o que fazia?



A Zézinha e mais um grupo de Senhoras amigas dedicaram-se ao voluntariado durante anos.
Todas as semanas, em dias pré-determinados deslocavam-se a pé, aos bairros mais pobres e degradantes da cidade de Nampula para visitar as dezenas e dezenas de homens e mulheres que sofriam de lepra…doença terrivel, dramática e mortal…não tinham qualquer espécie de tratamento ambulatório…conversavam com elas…tentavam terminar com o silêncio doloroso e habitual nestes doentes…pobres em último grau…tratavam o melhor que podiam e sabiam as suas feridas, desinfetando e aplicando alguns medicamentos que possuíam…todas as semanas havia um dia dedicado à assistência aos leprosos…e nesses dias, a Zézinha chegava a casa sempre muito impressionada com as experiências que tinha vivido...por vezes lá me contava algumas experiencias dolorosas que tinha acabado de viver…



…mas a Zezinha fazia mais…trabalho de voluntariado deste Grupo extraordinário de Senhoras fazia mais…era…simplesmente, todas as semanas tinham um dia destinado a visitar o Hospital Militar de Nampula – Moçambique. Neste Hospital situado na Cidade onde estava sediado o Quartel General do Exército Português em Moçambique era o primeiro destino de todos os feridos em combate. 

Pois a Zézinha e as suas amigas visitavam naquele dia escolhido os feridos em combate para lhes dar alento e uma palavra amiga…rapazes de tenra idade…alguns sem pernas ou braços…outros cegos…soldados do exército português que por vezes tinham como vizinhos de enfermaria outros soldados guerrilheiros da Frelimo. Seus inimigos de combate…

O que mais emocionava a Zezinha era precisamente o facto de soldados adversários viverem lado a lado…feridos…e por vezes apoiando-se mutuamente…a Zézinha chegava a casa sempre muito triste e incomodada…até porque sabia que o dia que o seu filho iria pegar em armas se aproximava assustadoramente.


Mas o trabalho de voluntariado da minha Zézinha não ficava por aqui.


…a Zézinha e suas amigas visitavam os já citados bairros periféricos…degradados, deteriorados e corrompidos…bairros onde a delinquência e a prostituição conviviam diariamente…faziam esta visita para quê?...pois para visitarem as mulheres que se dedicavam à prostituição para conseguirem sobreviver e/ou darem de comer aos seus filhos...Da parte da tarde, lá ia a Zézinha e o seu lindo grupo de Senhoras prestar o seu apoio, ou seus conselhos e indicando até  produtos de higienização.


Este era o trabalho de voluntariado que a Zézinha se dedicava.
…emociona-me, enche-me de orgulho e admiração todo o trabalho que a minha Zézinha prestava em regime total  de voluntariado com o seu Grupo extraordinário de Senhoras…

…a minha homenagem simples…simples como eram todas estas Senhoras lindas…
…esta era a minha Zézinha…simplesmente Zézinha…


…neste momento eu penso que…a  frase que eu mais gostaria de ouvir dos meus filhos seria “Eu te amo, Pai”…eu…muito poucas vezes disse aos meus Pais esta frase…eu te amo Pai e eu te amo Mãe…que pena…a Zézinha nos últimos anos da sua vida…por vezes questionava-me… “Filho…tu gostas de mim?”…percebi então a minha falta ou defeito …não transmitir por palavras…de forma viva…o quanto amava aquele ser divino…o remorso que sinto e me persegue por não ter dito “eu te amo Pai”…


…eu te amo Mãe…eu te amo Pai…






João Neves








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