segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Saudades da minha terra.



Saudades de África

De tempos a tempos sinto saudades de África, pela ausência de um conjunto de coisas que se vivem lá e que cá não se têm, sobretudo quando o frio me enregela os movimentos e me esfria os sentidos.



Tenho saudades do calor intenso salpicado por uma densa humidade, do cheiro misturado a terra molhada com frutas frescas, da sensação que por lá o tempo pára, permitindo-nos vivências redobradas, da ilusória receptiva disponibilidade que se procura ter entre todos, sem na verdade se ter.


Tenho saudades das praias de águas tépidas e transparentes habitadas por uma infinidade de espécies, das areias finas e dos coqueiros que, de vez em quando, libertam de forma natural um fruto, emitindo um som inigualável.


Tenho saudades da vegetação e dos animais, da vida ao ar livre e em contacto com a natureza, onde se aprende por observação directa, escutando as explicações de quem nos parece ter nascido ensinado, com dons e conhecimentos próprios, só possíveis naquelas terras, que vão sendo transmitidos de pais para filhos, sem paragens.

Tenho saudades de rir sem parar, de me sentir criativa quando procuro conchas ou cocos para decorar interiores, depois de os tratar e envernizar, de ouvir músicas ternas e envolventes, de inventar receitas para partilhar com um alguém que sinto como especial.




Tenho saudades dos mercados e das palaiês, das frutas e de tudo quanto se pode fazer com elas, dos peixes com nomes estranhos e do marisco com os mesmo nomes e aparências diferentes.


Tenho saudades de sentir saudades da civilização e do desenvolvimento, do cinema e do frio, dos livros e de vinhos caros, do conforto e de um centro comercial onde se possa gastar dinheiro a comprar coisas que nunca nos farão falta.


Tenho saudades até um dia voltar.

in  http://africadetodossonhos.blogspot.pt/





domingo, 7 de dezembro de 2014

Sinto a Tua falta, "Velho Companheiro"









"MEU VELHO"

"Para o meu Pai, Angolano falecido em dezembro de 1995"


Meu velho
Lembro-me de ti,
Rolam-me lágrimas.

Onde andarás "Meu Velho",
Caçador!
Pescador!
Mineiro!
Vivo com a certeza
Que junto de ti, guardas 
Meu lugar,
"Velho Companheiro".
 

"Velho Companheiro", 
De longas ausências.
Curtas estadias,
E muito falar.
Nossas longas conversas,
Me fizeram Homem.
E a saudade delas,
Me fazem chorar.
 

"Velho Companheiro", 
De mil aventuras,
Quantas experiências,
Vivemos os dois.
...coisas que me ensinaste,
Para nada serviam...
Mas bem me dizias.
Servirão depois.
Sempre me aconselhaste:
Na justa medida,
Vai gozando a vida...
Sem nunca esqueceres 
De praticar o bem.
Porque a gente só goza,
Na justa medida.
Se ajudarmos outros a gozar também
 
"Velho Companheiro".
Nas "Farras", nas nossas noitadas, 
Ensinaste-me tudo, para ser melhor.
Quantas histórias, da tua vida
Meu "Velho".
Como díria Sérgio Bittencourt "Naquela messa"
"Hoje na memória,
Eu guardo e sei de cor"
 

Numa das noitadas
Quando sobre a morte,
Eu te quis falar,
Tu só me disseste
Dos que já morreram,
E que conhecias... 
Nunca niguém veio 
Dela reclamar.
 


Lembro-me de ti,
Rolam-me lágrimas,
Onde andarás "Meu Velho",
Caçador!
Pescador!
Mineiro! 
Por quê ?
Deus te levou.
Tão cedo a vida...
Sinto a Tua falta,
"Velho Companheiro"

                        Olimpio C. Neves - Lisboa - 23/1/96