terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Tradições dos Macuas

Por: ALBERTO VIEGAS in Revista Audácia - Março de 1998

 

Os Macuas - povo da floresta - são uma tribo de origem banta. Em tempos habitavam na zona dos Grandes Lagos (República Democrática do Congo). Depois deslocaram-se em direcção ao sul da África. Actualmente são o grupo étnico mais numeroso de Moçambique. Eles são um povo caracterizado pela sua inclinação natural para o sorriso, que se traduz muitas vezes em sonoras e prolongadas gargalhadas.

Para a tribo Macua, o sorriso é um sinal de amizade e de que se pode criar uma boa relação. Quando chega alguém que não conhecem, sorriem-lhe na mesma. Deste modo, ele saberá que não tem nada a temer.
Os macuas recorrem também ao sorriso para apagar as ofensas. O ofendido, por sua vez, espera que aquele que o ofendeu lhe retribua outro sorriso para demonstrar que não queria ferir-lhe o coração. Basta um sorriso e acontecerá a reconciliação.
Durante o período colonial, este costume deu origem a muitas incompreensões. Ao patrão enfurecido que o insultava e lhe batia, o macua sorria, querendo dizer-lhe: «Desculpe, não queria ofendê-lo». Mas o patrão, ignorando o significado desta atitude, tratava-o ainda com mais violência, pois pensava que estava a burlar-se dele.
Há, porém, momentos em que os macuas não riem nunca: perante uma pessoa com deficiências mentais, um idoso ou durante uma celebração solene.
A hospitalidade é outro valor muito importante para a tribo macua. Por mais pobres que sejam, todas as famílias possuem sempre uma habitação reservada para os hóspedes, os parentes, os amigos ou os peregrinos e partilham com eles tudo quanto têm, a ponto de oferecer ao recém-chegado a própria cama, onde eles dormiram nessa noite.




 Quando um desconhecido chama à porta da cabana, se tem saúde, os donos da casa perguntam-lhe onde vivem os seus parentes. Mas se é um doente, não lhe fazem qualquer pergunta. Acolhem-no sempre.

Se a família está a tomar uma refeição, o hóspede não pode recusar-se a tomar assento e comer com eles, tomando o alimento do prato de onde se servem todos, o qual está colocado ao centro. Se, porventura, o hóspede recusa, isto é uma grave ofensa para a família que o acolhe. Mesmo que não tenha apetite, deve lavar as mãos, comer do que a mulher cozinhou e voltar a lavar as mãos.
A saudação entre as pessoas é feita quase que ao modo de um ritual. Quando saúdam um chefe ou cujo cargo obriga a uma consideração particular, fazem-no de modo humilde e respeitoso. Se se aproximam de frente, acompanham as palavras de saudação com um rítmico bater das mãos.
Aquele que encontra um grupo de pessoas reunidas, sempre que alguém do grupo se aproxima para o saudar, pousa primeiro no chão, a uma certa distância, tudo o que leva na mão. Saúdam-se sempre com a mão direita, a mão forte, mostrando claramente que não guarda nada contra ele. O saudado não tem nada a temer.
Se a saudação for feita com a mão esquerda, considerada a mão débil e inofensiva, pode sugerir que na outra mão há um punhal. O melhor é usar sempre as duas mãos, infundindo deste modo maior confiança e tranquilidade.
Os anciãos recebem uma grande veneração entre os macuas. Ninguém dirige a palavra a um ancião estando de pé. Este sentir-se-ia ofendido. Pelo contrário, aquele que lhe fala senta-se ou põe-se de cócoras.
Nas refeições, o primeiro a lavar as mãos, na única bacia que passa por todos, é o ancião. Também é ele que se serve primeiro dos alimentos e que dá início à refeição. Ao ancião, compete ainda ser o primeiro a terminar a refeição. Todos os outros, mesmo que não tenham apetite, devem continuar a comer. O ancião merece todo o respeito.
No dia-a-dia, quando um jovem está sentado numa cadeira, numa pedra ou no chão, mas num lugar mais elevado, quando passa um ancião terá que descer e, pelo menos, pôr-se de cócoras.
Um valor muito importante entre os macuas é a solidariedade. Unem-se solidariamente de modo particular face à doença. Quando numa família alguém adoece, todos os vizinhos se sentem obrigados a fazer-lhe uma visita, de manhã cedo ou à tardinha. E ninguém vai de mãos vazias, mas com comida, água, lenha...
Se o doente piora, o chefe da família vizinha e outros adultos dormem junto à casa, velando no aprisco e sempre prontos para prestar uma ajuda quando for preciso.
No caso de morte, a solidariedade aumenta. Há quem se ofereça para ir avisar os parentes que vivem mais longe. Outro cava a sepultura. Outro ainda encarrega-se de arranjar o lençol para envolver o defunto. Entretanto, já se reuniram as pessoas que lavarão o corpo. As mulheres vão buscar a água e preparam a comida para todos os presentes.
Depois do funeral, os parentes e vizinhos passam três noites consecutivas na casa da família enlutada. Ao quarto dia, varre-se a casa e limpa-se o pátio. Passado um mês de luto, corta-se o cabelo à viúva e aos outros membros da família e os hóspedes regressam às suas casas.






Meu Comentário: Estas são algumas das razões porque sinto orgulho por ser Macua...e saudosista...
Shalom...


João Neves



1 comentário:

  1. Como é bom ver alguém sorrir.
    Deixo aqui algumas palavras do Chaplin.


    "Sorri quando a dor te torturar
    E a saudade atormentar
    Os teus dias tristonhos vazios

    Sorri quando tudo terminar
    Quando nada mais restar
    Do teu sonho encantador

    Sorri quando o sol perder a luz
    E sentires uma cruz
    Nos teus ombros cansados doridos

    Sorri vai mentindo a sua dor
    E ao notar que tu sorris
    Todo mundo irá supor
    Que és feliz."

    Charles Chaplin

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