As tradições dos Macuas
Por: ALBERTO VIEGAS
Por: ALBERTO VIEGAS
Os Macuas - povo da
floresta - são uma tribo de origem banta. Em tempos habitavam na zona dos
Grandes Lagos (República Democrática do Congo). Depois deslocaram-se em
direcção ao sul da África. Actualmente são o grupo étnico mais numeroso de
Moçambique. Eles são um povo caracterizado pela sua inclinação natural para o
sorriso, que se traduz muitas vezes em sonoras e prolongadas gargalhadas.
Para a tribo Macua, o sorriso é um sinal de amizade e de que
se pode criar uma boa relação. Quando chega alguém que não conhecem,
sorriem-lhe na mesma. Deste modo, ele saberá que não tem nada a temer.
Os macuas recorrem também ao sorriso para apagar as ofensas.
O ofendido, por sua vez, espera que aquele que o ofendeu lhe retribua outro
sorriso para demonstrar que não queria ferir-lhe o coração. Basta um sorriso e
acontecerá a reconciliação.
Há, porém, momentos em que os macuas não riem nunca: perante
uma pessoa com deficiências mentais, um idoso ou durante uma celebração solene.
A hospitalidade é outro valor muito importante para a tribo
macua. Por mais pobres que sejam, todas as famílias possuem sempre uma
habitação reservada para os hóspedes, os parentes, os amigos ou os peregrinos e
partilham com eles tudo quanto têm, a ponto de oferecer ao recém-chegado a
própria cama, onde eles dormiram nessa noite.
Quando um desconhecido chama à porta da cabana, se tem
saúde, os donos da casa perguntam-lhe onde vivem os seus parentes. Mas se é um
doente, não lhe fazem qualquer pergunta. Acolhem-no sempre.
Se a família está a tomar uma refeição, o hóspede não pode
recusar-se a tomar assento e comer com eles, tomando o alimento do prato de
onde se servem todos, o qual está colocado ao centro. Se, porventura, o hóspede
recusa, isto é uma grave ofensa para a família que o acolhe. Mesmo que não
tenha apetite, deve lavar as mãos, comer do que a mulher cozinhou e voltar a
lavar as mãos.
A saudação entre as pessoas é feita quase que ao modo de um
ritual. Quando saúdam um chefe ou cujo cargo obriga a uma consideração
particular, fazem-no de modo humilde e respeitoso. Se se aproximam de frente,
acompanham as palavras de saudação com um rítmico bater das mãos.
Aquele que encontra um grupo de pessoas reunidas, sempre que
alguém do grupo se aproxima para o saudar, pousa primeiro no chão, a uma certa
distância, tudo o que leva na mão. Saúdam-se sempre com a mão direita, a mão
forte, mostrando claramente que não guarda nada contra ele. O saudado não tem
nada a temer.
Se a saudação for feita com a mão esquerda, considerada a
mão débil e inofensiva, pode sugerir que na outra mão há um punhal. O melhor é
usar sempre as duas mãos, infundindo deste modo maior confiança e
tranquilidade.
Os anciãos recebem uma grande veneração entre os macuas.
Ninguém dirige a palavra a um ancião estando de pé. Este sentir-se-ia ofendido.
Pelo contrário, aquele que lhe fala senta-se ou põe-se de cócoras.
Nas refeições, o primeiro a lavar as mãos, na única bacia
que passa por todos, é o ancião. Também é ele que se serve primeiro dos
alimentos e que dá início à refeição. Ao ancião, compete ainda ser o primeiro a
terminar a refeição. Todos os outros, mesmo que não tenham apetite, devem
continuar a comer. O ancião merece todo o respeito.
No dia-a-dia, quando um jovem está sentado numa cadeira,
numa pedra ou no chão, mas num lugar mais elevado, quando passa um ancião terá
que descer e, pelo menos, pôr-se de cócoras.
Um valor muito importante entre os macuas é a solidariedade.
Unem-se solidariamente de modo particular face à doença. Quando numa família
alguém adoece, todos os vizinhos se sentem obrigados a fazer-lhe uma visita, de
manhã cedo ou à tardinha. E ninguém vai de mãos vazias, mas com comida, água,
lenha...
Se o doente piora, o chefe da família vizinha e outros
adultos dormem junto à casa, velando no aprisco e sempre prontos para prestar
uma ajuda quando for preciso.
No caso de morte, a solidariedade aumenta. Há quem se
ofereça para ir avisar os parentes que vivem mais longe. Outro cava a
sepultura. Outro ainda encarrega-se de arranjar o lençol para envolver o
defunto. Entretanto, já se reuniram as pessoas que lavarão o corpo. As mulheres
vão buscar a água e preparam a comida para todos os presentes.
Depois do funeral, os parentes e vizinhos passam três noites
consecutivas na casa da família enlutada. Ao quarto dia, varre-se a casa e
limpa-se o pátio. Passado um mês de luto, corta-se o cabelo à viúva e aos
outros membros da família e os hóspedes regressam às suas casas.